Objetivo da adoração – Adoração exterior – Vida contemplativa – A prece – Politeísmo – Sacrifícios
OBJETIVO DA ADORAÇÃO
- Em que consiste a adoração?
“Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela
adoração, aproxima o homem sua
alma.”
- Origina-se de um sentimento inato a adoração, ou é
fruto de ensino?
“Sentimento inato, como o da existência de Deus. A
consciência da sua fraqueza leva o homem a curvar-se
diante daquele que o pode proteger.”
- Terá havido povos destituídos de todo sentimento de
adoração?
“Não, que nunca houve povos de ateus. Todos compreendem
que acima de tudo há um Ente Supremo.”
- Poder-se-á considerar a lei natural como fonte
originária da adoração?
“A adoração está na lei natural, pois resulta de um
sentimento inato no homem. Por essa razão é que existe
entre todos os povos, se bem que sob formas diferentes.”
ADORAÇÃO EXTERIOR
- Precisa de manifestações exteriores a adoração?
“A adoração verdadeira é do coração. Em todas as vossas
ações, lembrai-vos sempre de que o Senhor tem sobre
vós o seu olhar.”
- a) — Será útil a adoração exterior?
“Sim, se não consistir num vão simulacro. É sempre
útil dar um bom exemplo. Mas, os que somente por afetação
e amor-próprio o fazem, desmentindo com o proceder a
aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal
que causam.”
- Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou
daquela maneira?
“Deus prefere os que o adoram do fundo do coração,
com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que
julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam
melhores para com os seus semelhantes.
“Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele
atrai a si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que
seja a forma sob que as exprimam.
“É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores.
Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é
afetada e contradiz o seu procedimento.
“Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma
tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é
orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com
outrem, ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que
tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais
culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante que
vive no deserto. E como tal será tratado no dia da justiça.
Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um
homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e
com razão.
“Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração
há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes
se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que
noutro. Ainda uma vez vos digo: até ele não chegam os
cânticos, senão quando passam pela porta do coração.”
- Merece censura aquele que pratica uma religião em que
não crê do fundo dalma, fazendo-o apenas pelo respeito
humano e para não escandalizar os que pensam de
modo diverso?
“Nisto, como em muitas outras coisas, a intenção constitui
a regra. Não procede mal aquele que, assim fazendo,
só tenha em vista respeitar as crenças de outrem. Procede
melhor do que um que as ridiculize, porque, então, falta à
caridade. Aquele, porém, que a pratique por interesse e por
ambição se torna desprezível aos olhos de Deus e dos homens.
A Deus não podem agradar os que fingem humilhar-se diante dele tão-somente para granjear o aplauso dos homens.”
- À adoração individual será preferível a adoração em
comum?
“Reunidos pela comunhão dos pensamentos e dos sentimentos,
mais força têm os homens para atrair a si os bons
Espíritos. O mesmo se dá quando se reúnem para adorar a
Deus. Não creiais, todavia, que menos valiosa seja a adoração
particular, pois que cada um pode adorar a Deus
pensando nele.”
VIDA CONTEMPLATIVA
- Têm, perante Deus, algum mérito os que se consagram
à vida contemplativa, uma vez que nenhum mal fazem
e só em Deus pensam?
“Não, porquanto, se é certo que não fazem o mal, também
o é que não fazem o bem e são inúteis. Demais, não
fazer o bem já é um mal. Deus quer que o homem pense
nele, mas não quer que só nele pense, pois que lhe impôs
deveres a cumprir na Terra. Quem passa todo o tempo na
meditação e na contemplação nada faz de meritório aos
olhos de Deus, porque vive uma vida toda pessoal e inútil à
Humanidade e Deus lhe pedirá contas do bem que não
houver feito.”
A PRECE
- Agrada a Deus a prece?
“A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada
pelo coração, pois, para ele, a intenção é tudo. Assim, preferível lhe é a prece do íntimo à prece lida, por muito bela que
seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração.
Agrada-lhe a prece, quando dita com fé, com fervor e sinceridade.
Mas, não creiais que o toque a do homem fútil, orgulhoso
e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um
ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.”
- Qual o caráter geral da prece?
“A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar
nele; é aproximar-se dele; é pôr-se em comunicação com
ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece:
louvar, pedir, agradecer.”
- A prece torna melhor o homem?
“Sim, porquanto aquele que ora com fervor e confiança
se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe
envia bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que
jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.”
- a) — Como é que certas pessoas, que oram muito, são,
não obstante, de mau-caráter, ciosas, invejosas, impertinentes,
carentes de benevolência e de indulgência e até, algumas
vezes, viciosas?
“O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas
pessoas supõem que todo o mérito está na longura da prece
e fecham os olhos para os seus próprios defeitos. Fazem
da prece uma ocupação, um emprego do tempo, nunca,
porém, um estudo de si mesmas. A ineficácia, em tais casos,
não é do remédio, sim da maneira por que o aplicam.”
- Poderemos utilmente pedir a Deus que perdoe as
nossas faltas?
“Deus sabe discernir o bem do mal; a prece não esconde
as faltas. Aquele que a Deus pede perdão de suas faltas só
o obtém mudando de proceder. As boas ações são a melhor
prece, por isso que os atos valem mais que as palavras.”
- Pode-se, com utilidade, orar por outrem?
“O Espírito de quem ora atua pela sua vontade de praticar
o bem. Atrai a si, mediante a prece, os bons Espíritos
e estes se associam ao bem que deseje fazer.”
O pensamento e a vontade representam em nós um poder de
ação que alcança muito além dos limites da nossa esfera corporal.
A prece que façamos por outrem é um ato dessa vontade. Se
for ardente e sincera, pode chamar, em auxílio daquele por quem
oramos, os bons Espíritos, que lhe virão sugerir bons pensamentos
e dar a força de que necessitem seu corpo e sua alma. Mas,
ainda aqui, a prece do coração é tudo, a dos lábios nada vale.
- Podem as preces, que por nós mesmos fizermos, mudar
a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso?
“As vossas provas estão nas mãos de Deus e algumas
há que têm de ser suportadas até ao fim; mas, Deus sempre
leva em conta a resignação. A prece traz para junto de
vós os bons Espíritos e, dando-vos estes a força de suportá-
-las corajosamente, menos rudes elas vos parecem. Hemos
dito que a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque
fortalece aquele que ora, o que já constitui grande resultado.
Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará, bem o sabes.
Demais, não é possível que Deus mude a ordem da natureza
ao sabor de cada um, porquanto o que, do vosso ponto
de vista mesquinho e do da vossa vida efêmera, vos parece
um grande mal é quase sempre um grande bem na ordem
geral do Universo. Além disso, de quantos males não se
constitui o homem o próprio autor, pela sua imprevidência
ou pelas suas faltas? Ele é punido naquilo em que pecou.
Todavia, as súplicas justas são atendidas mais vezes do
que supondes. Julgais, de ordinário, que Deus não vos ouviu,
porque não fez a vosso favor um milagre, enquanto que
vos assiste por meios tão naturais que vos parecem obra do
acaso ou da força das coisas. Muitas vezes também, as mais
das vezes mesmo, ele vos sugere a idéia que vos fará sair da
dificuldade pelo vosso próprio esforço.”
- Será útil que oremos pelos mortos e pelos Espíritos sofredores? E, neste caso, como lhes podem as nossas
preces proporcionar alívio e abreviar os sofrimentos?
Têm elas o poder de abrandar a justiça de Deus?
“A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de
Deus, mas a alma por quem se ora experimenta alívio, porque
recebe assim um testemunho do interesse que inspira
àquele que por ela pede e também porque o desgraçado
sente sempre um refrigério, quando encontra almas caridosas
que se compadecem de suas dores. Por outro lado,
mediante a prece, aquele que ora concita o desgraçado ao
arrependimento e ao desejo de fazer o que é necessário para
ser feliz. Neste sentido é que se lhe pode abreviar a pena,
se, por sua parte, ele secunda a prece com a boa vontade.
O desejo de melhorar-se, despertado pela prece, atrai para
junto do Espírito sofredor Espíritos melhores, que o vão
esclarecer, consolar e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas
ovelhas desgarradas, mostrando-vos, desse modo, que
culpados vos tornaríeis, se não fizésseis o mesmo pelos que
mais necessitam das vossas preces.”
- Que se deve pensar da opinião dos que rejeitam a prece
em favor dos mortos, por não se achar prescrita no
Evangelho?
“Aos homens disse o Cristo: Amai-vos uns aos outros.
Esta recomendação contém a de empregar o homem todos
os meios possíveis para testemunhar aos outros homens
afeição, sem haver entrado em minúcias quanto à maneira
de atingir ele esse fim. Se é certo que nada pode fazer que o
Criador, imagem da justiça perfeita, deixe de aplicá-la a
todas as ações do Espírito, não menos certo é que a prece
que lhe dirigis por aquele que vos inspira afeição constitui,
para este, um testemunho de que dele vos lembrais, testemunho
que forçosamente contribuirá para lhe suavizar os
sofrimentos e consolá-lo. Desde que ele manifeste o mais
ligeiro arrependimento, mas só então, é socorrido. Nunca,
porém, será deixado na ignorância de que uma alma simpática
com ele se ocupou. Ao contrário, será deixado na
doce crença de que a intercessão dessa alma lhe foi útil.
Daí resulta necessariamente, de sua parte, um sentimento
de gratidão e afeto pelo que lhe deu essa prova de amizade
ou de piedade. Em conseqüência, crescerá num e noutro,
reciprocamente, o amor que o Cristo recomendava aos homens.
Ambos, pois, se fizeram assim obedientes à lei de
amor e de união de todos os seres, lei divina, de que resultará
a unidade, objetivo e finalidade do Espírito.”1
1 Resposta dada pelo Sr. Monod (Espírito), pastor protestante em
Paris, morto em abril de 1856. A resposta anterior, nº 664, é do
Espírito São Luís.
- Pode-se orar aos Espíritos?
“Pode-se orar aos bons Espíritos, como sendo os mensageiros
de Deus e os executores de suas vontades. O poder
deles, porém, está em relação com a superioridade que
tenham alcançado e dimana sempre do Senhor de todas as
coisas, sem cuja permissão nada se faz. Eis por que as
preces que se lhes dirigem só são eficazes, se bem aceitas
por Deus.”
POLITEÍSMO
- Por que razão, não obstante ser falsa, a crença politeísta
é uma das mais antigas e espalhadas?
“A concepção de um Deus único não poderia existir no
homem, senão como resultado do desenvolvimento de suas
idéias. Incapaz, pela sua ignorância, de conceber um ser
imaterial, sem forma determinada, atuando sobre a matéria,
conferiu-lhe o homem atributos da natureza corpórea,
isto é, uma forma e um aspecto e, desde então, tudo o que
parecia ultrapassar os limites da inteligência comum era,
para ele, uma divindade. Tudo o que não compreendia devia
ser obra de uma potência sobrenatural. Daí a crer em
tantas potências distintas quantos os efeitos que observava,
não havia mais que um passo. Em todos os tempos,
porém, houve homens instruídos, que compreenderam ser
impossível a existência desses poderes múltiplos a governarem
o mundo, sem uma direção superior, e que, em conseqüência,
se elevaram à concepção de um Deus único.”
- Tendo-se produzido em todos os tempos e sendo conhecidos
desde as primeiras idades do mundo, não haverão os fenômenos espíritas contribuído para a difusão da crença na pluralidade dos deuses?
“Sem dúvida, porquanto, chamando deus a tudo o que
era sobre-humano, os homens tinham por deuses os Espíritos.
Daí veio que, quando um homem, pelas suas ações,
pelo seu gênio, ou por um poder oculto que o vulgo não
lograva compreender, se distinguia dos demais, faziam dele
um deus e, por sua morte, lhe rendiam culto.”
A palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla.
Não indicava, como presentemente, uma personificação do
Senhor da Natureza. Era uma qualificação genérica, que se dava
a todo ser existente fora das condições da Humanidade. Ora,
tendo-lhes as manifestações espíritas revelado a existência de seres incorpóreos a atuarem como potência da Natureza, a esses
seres deram eles o nome de deuses, como lhes damos atualmente
o de Espíritos.
Pura questão de palavras, com a única diferença
de que, na ignorância em que se achavam, mantida intencionalmente pelos que nisso tinham interesse, eles erigiram templos e altares muito lucrativos a tais deuses, ao passo que hoje os consideramos simples criaturas como nós, mais ou menos perfeitas e despidas de seus invólucros terrestres. Se estudarmos atentamente os diversos atributos das divindades pagãs, reconheceremos, sem esforço, todos os de que vemos dotados os Espíritos nos diferentes graus da escala espírita, o estado físico em que se encontram nos mundos superiores, todas as propriedades do perispírito e os papéis que desempenham nas coisas da Terra.
Vindo iluminar o mundo com a sua divina luz, o Cristianismo
não se propôs destruir uma coisa que está na Natureza. Orientou,
porém, a adoração para Aquele a quem é devida. Quanto aos
Espíritos, a lembrança deles se há perpetuado, conforme os povos,
sob diversos nomes, e suas manifestações, que nunca deixaram
de produzir-se, foram interpretadas de maneiras diferentes e
muitas vezes exploradas sob o prestígio do mistério. Enquanto
para a religião essas manifestações eram fenômenos miraculosos,
para os incrédulos sempre foram embustes. Hoje, mercê de um
estudo mais sério, feito à luz meridiana, o Espiritismo, escoimado
das idéias supersticiosas que o ensombraram durante séculos,
nos revela um dos maiores e mais sublimes princípios da
Natureza.
SACRIFÍCIOS
- Remonta à mais alta antiguidade o uso dos sacrifícios
humanos. Como se explica que o homem tenha sido
levado a crer que tais coisas pudessem agradar a Deus?
“Primeiramente, porque não compreendia Deus como
sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos a matéria
sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal
selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que
neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. Em
segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem
ter uma criatura animada muito mais valor, aos
olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os
levou a imolarem, primeiro, animais e, mais tarde, homens.
De conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam
que o valor do sacrifício era proporcional à importância
da vítima. Na vida material, como geralmente a praticais,
se houverdes de oferecer a alguém um presente, escolhê-lo-
-eis sempre de tanto maior valor quanto mais afeto e consideração
quiserdes testemunhar a esse alguém. Assim tinha
que ser, com relação a Deus, entre homens ignorantes.”
- a) — De modo que os sacrifícios de animais precederam
os sacrifícios humanos?
“Sobre isso não pode haver a menor dúvida.”
- b) — Então, de acordo com a explicação que vindes de
dar, não foi de um sentimento de crueldade que se
originaram os sacrifícios humanos?
“Não; originaram-se de uma idéia errônea quanto à maneira
de agradar a Deus. Considerai o que se deu com
Abraão. Com o correr dos tempos, os homens entraram a
abusar dessas práticas, imolando seus inimigos comuns,
até mesmo seus inimigos particulares. Deus, entretanto,
nunca exigiu sacrifícios, nem de homens, nem, sequer, de
animais. Não há como imaginar-se que se lhe possa prestar
culto, mediante a destruição inútil de suas criaturas.”
- Dar-se-á que alguma vez possam ter sido agradáveis
a Deus os sacrifícios humanos praticados com piedosa
intenção?
“Não, nunca. Deus, porém, julga pela intenção. Sendo
ignorantes os homens, natural era que supusessem praticar
ato louvável imolando seus semelhantes. Nesses casos,
Deus atentava unicamente na idéia que presidia ao ato e
não neste. À proporção que se foram melhorando, os homens
tiveram que reconhecer o erro em que laboravam e
que reprovar tais sacrifícios, com que não podiam conformar-
se as idéias de Espíritos esclarecidos. Digo — esclarecidos,
porque os Espíritos tinham então a envolvê-los o véu
material; mas, por meio do livre-arbítrio, possível lhes era
vislumbrar suas origens e fim, e muitos, por intuição, já compreendiam o mal que praticavam, se bem que nem por isso
deixassem de praticá-lo, para satisfazer às suas paixões.”
- Que devemos pensar das chamadas guerras santas?
O sentimento que impele os povos fanáticos, tendo em
vista agradar a Deus, a exterminarem o mais possível
os que não partilham de suas crenças, poderá equiparar-
se, quanto à origem, ao sentimento que os excitava
outrora a sacrificarem seus semelhantes?
“São impelidos pelos maus Espíritos e, fazendo a guerra
aos seus semelhantes, contravêm à vontade de Deus, que
manda ame cada um o seu irmão, como a si mesmo. Todas
as religiões, ou, antes, todos os povos adoram um mesmo
Deus, qualquer que seja o nome que lhe dêem. Por que
então há de um fazer guerra a outro, sob o fundamento de
ser a religião deste diferente da sua, ou por não ter ainda
atingido o grau de progresso da dos povos cultos? Se são
desculpáveis os povos de não crerem na palavra daquele
que o Espírito de Deus animava e que Deus enviou, sobretudo
os que não o viram e não lhe testemunharam os atos,
como pretenderdes que creiam nessa palavra de paz, quando
lhes ides levá-la de espada em punho? Eles têm que ser
esclarecidos e devemos esforçar-nos por fazê-los conhecer
a doutrina do Salvador, mediante a persuasão e com brandura,
nunca a ferro e fogo. Em vossa maioria, não acreditais
nas comunicações que temos com certos mortais; como
quereríeis que estranhos acreditassem na vossa palavra,
quando desmentis com os atos a doutrina que pregais?”
- A oferenda feita a Deus, de frutos da terra, tinha a
seus olhos mais mérito do que o sacrifício dos animais?
“Já vos respondi, declarando que Deus julga segundo
a intenção e que para ele pouca importância tinha o fato.
Mais agradável evidentemente era a Deus que lhe oferecessem
frutos da terra, em vez do sangue das vítimas. Como
temos dito e sempre repetiremos, a prece proferida do fundo da alma é cem vezes mais agradável a Deus do que todas
as oferendas que lhe possais fazer. Repito que a intenção é
tudo, que o fato nada vale.”
- Não seria um meio de tornar essas oferendas agradáveis
a Deus consagrá-las a minorar os sofrimentos daqueles
a quem falta o necessário e, neste caso, o sacrifício
dos animais, praticado com fim útil, não se tornaria
meritório, ao passo que era abusivo quando para nada
servia, ou só aproveitava aos que de nada precisavam?
Não haveria qualquer coisa de verdadeiramente piedoso
em consagrar-se aos pobres as primícias dos bens
que Deus nos concede na Terra?
“Deus abençoa sempre os que fazem o bem. O melhor
meio de honrá-lo consiste em minorar os sofrimentos dos
pobres e dos aflitos. Não quero dizer com isto que ele desaprove
as cerimônias que praticais para lhe dirigirdes as vossas
preces. Muito dinheiro, porém, aí se gasta que poderia
ser empregado mais utilmente do que o é. Deus ama a simplicidade em tudo. O homem que se atém às exterioridades
e não ao coração é um Espírito de vistas acanhadas. Dizei,
em consciência, se Deus deve atender mais à forma do que
ao fundo.”
Fonte – O Livro dos Espíritos, do Cap.II, parte terceira “Da Lei de Adoração”
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